“Haverá o antes e o depois da Baixada após a construção dos Diques”, afirma técnico em obras de infraestrutura

Do Robert Lobato

Alexandre Ayrton Muniz de Abreu.
Alexandre Ayrton Muniz de Abreu.

O engenheiro civil, formado pela Universidade Estadual do Maranhão, Alexandre Ayrton Muniz de Abreu, auditor do Tribunal de Contas do Estado onde exerce a função de gestor de Infraestrutura. Alexandre de Abreu, fala sobre o projeto dos Diques da Baixada, sua importância estratégica para a região em particular, e para o estado como um todo.

O engenheiro não tem dúvidas de que uma vez construídos, “haverá o antes e o depois da Baixada após a construção dos Diques. As possibilidades que essa obra trará para o desenvolvimento econômico e social da região são inúmeros”.

Outro assunto importante tratado na entrevista é quanto a situação atual da Barragem do Pericumã, na qual Alexandre de Abreu faz um alerta crucial às autoridade:

“A barragem de Pericumã pede socorro e não é de hoje. Havendo o rompimento de uma comporta ou mesmo de parte da barragem, um inverno maior poderá trazer de volta as inundações às comunidades.  Essa é uma tragédia anunciada que será sentida pela população mais carente se nada for feito.”

Confira a íntegra da entrevista.

“Existe uma região no Equador chamada de Guayaquil , que encontra-se praticamente na mesma latitude da Baixada Maranhense, inclusive eu costumo apresentar a região de Guayaquil como se fosse a baixada, para isso basta girar o mapa do mundo e é possível confundir essas duas regiões. Guayaquil é a maior produtora de camarão de cativeiro do Equador e é a região com a maior renda per capta do País. Por que não transformar a baixada maranhense em uma nova Guayaquil?”.

Descreva para os nossos leitores o que é e onde está localizada a Baixada Maranhense.

Classicamente chama-se Baixada Maranhense a região a oeste e sudeste da ilha de São Luís, formada por grandes planícies baixas que alagam na estação das chuvas, criando enormes lagoas entre os meses de janeiro a julho.

Eu costumo dizer que a baixada maranhense é o nosso Pantanal, pois durante uma época do ano ela é alagada e em outra época ela é seca, permitindo inclusive que se transite de carro por sobre a região onde antes havia uma grande massa d´água.

É uma região com mais de 20.000 quilômetros quadrados, com economia basicamente de subsistência baseada na pesca, pecuária e extrativismo. No século XIX foi um grande pólo produtor de algodão e responsável, segundo alguns moradores antigos e historiadores, pela época de ouro da cidade de São Luís.

Por que historicamente os governos não deram a devida atenção para a região já que há um grande aglomerado populacional na Baixada?

Não tenho como responder a essa pergunta. Por produzir pouco, mas por não ter problemas de fome intensa, afinal sempre há um peixinho para saciar a fome, talvez a baixada tenha sempre sido tratada como uma prima pobre, mas que não precisasse de muita coisa justamente por não ser uma área de fome endêmica. A verdade é que lá existe uma pobreza muito grande e uma região que enfrenta uma seca muito intensa na metade do ano e que agora corre o risco da salinização das águas que podem ser usadas pela população na outra metade do ano.

Qual a importância do projeto dos Diques para a Baixada Maranhenses?

Essa obra é fundamental para o desenvolvimento da Baixada Maranhense. Me arrisco a dizer que haverá o antes e o depois da Baixada após a construção dos Diques. As possibilidades que essa obra trará para o desenvolvimento econômico e social da região são inúmeros.

O atual projeto que será executado pela Codevasf difere em alguma coisa substancial do que foi concebido originalmente no governo Jackson Lago?

Originalmente, pelos idos de 1982, segundo conversa que tive com o engenheiro Renato Cestari, que foi um dos idealizadores e projetistas, tanto dos Diques da Baixada quanto da barragem do Rio Maracu, três projetos foram pensados para proteger a baixada maranhense.

A barragem de Pericumã em Pinheiro, a barragem do Rio Maracu em Cajarí e os Diques da Baixada.
Desses três, até o momento, só foi realizado a barragem do Rio Pericumã em Pinheiro.

Quanto ao projeto da época do Governador Jackson Lago, priorizava inicialmente a construção da Barragem do Rio Maracu, em Cajarí. O Projeto do Diques da Baixada se refere ao outro projeto de proteção da região pensado lá em 82. Hoje essa é a principal bandeira do Fórum da Baixada uma vez que é fundamental impedir que os campos da baixada se transformem em um imenso apicum [ecossistemas costeiros caracterizados por área plana com elevada salinidade]. Esses diques protegerão os campos e principalmente os lagos de Coqueiro, Itans, Gitiba e Galego, e em termos de massa d´água gira em torno de 600.000.000 de metros cúbicos de água doce. Depois deveremos olhar para a Barragem do Rio Maracu que protegerá principalmente os lagos de Viana, Aquirí, Maracaçumé e Cajarí.

Como é o projeto e como se dará a construção dos diques?

Os Diques da Baixada, segundo anteprojeto da CODEVASF, serão construídos pela técnica de Bota-Dentro, ou seja o material escavado será usado na construção do dique.

O Dique terá cerca de 70,5km de extensão e margeará a baia de São Marcos, indo de Viana até Bacurituba. Terá 19m de largura em média, sendo13m de pista de rolamento e uma altura média de 5,00m.

Ao longo da extensão dos Diques serão construídos 22 vertedouros e de onde foi retirada a terra para a sua construção, restará um canal com a largura média de 30,00m e 1,50m de profundidade que permitirá o tráfego de pequenas embarcações durante todo ao ano, além de servir de depositário de água doce e servir para a pesca artesanal de peixes nativos, também durante todo o ano.

Quais os impactos ambientais podem surgir com a execução do projeto?

Esses impactos serão determinados pelo EIA/RIMA que deverá ser efetuado pela CODEVASF quando do início dos trabalhos para a realização do projeto.

Embora não seja especialista na área ambiental, acredito que não haverá grandes impactos negativos uma vez que o que será realizado manterá o ciclo existente hoje na baixada de cheias e secas, apenas a época de cheia será mais prolongada, como era na época dos nossos avós. Isso beneficiará a todos, pois possibilitará maior acesso à água para consumo humano e animal, possibilitará a produção de mais alimentos através da pratica de agricultura irrigada, aumento na produção dos peixes, uma vez que por manter mais tempo os campos cheios os peixes nativos poderão se desenvolver melhor. Soma-se a isso tudo a exploração positicas das cheias como atrativo para o turismo, através de concurso de pesca, disputas de regatas e muitas outras atividades que poderão ser implementadas através dos anos

Então não se trata apenas de uma questão de Engenharia, mas o projeto dos Diques contempla também fatores econômicos para a região?

Com certeza. Costumo dizer que uma região só se desenvolve se tiver a infraestrutura implantada e essa infraestrutura será dada pela construção do projeto dos Diques da Baixada. Nós, maranhenses nunca antes havíamos ouvido falar das belezas de Barreirinhas até que foi executada a estrada que nos levou até lá. Depois da estrada vieram os hotéis, os grandes resorts, os turistas e hoje Barreirinhas é conhecida no mundo todo. Acredito que a mesma coisa ocorrerá na região da Baixada e isso, com certeza, vai melhorar a vida da população. O próprio SEBRAE já se comprometeu em desenvolver arranjos produtivos para a melhoria de qualidade de vida da população baixadeira.

Fala-se muito de se tratar do pedaço de chão mais pobre do estado. Isso é verdade?

Infelizmente não poderei confirmar essa informação, teria que ter dados estatísticos para isso. O que eu posso afirmar é que é uma região muito pobre mas potencialmente rica. Em um artigo publicado no dia 10/08/2015 no Jornal Pequeno intitulado “A Penúria da Rica Baixada Maranhense”, o ex-deputado Expedito Moraes retrata muito bem a situação da pobreza da baixada.

Então o Projeto dos Diques pode mesmo ser a redenção da Baixada como afirmou recentemente o senador Roberto Rocha?

Se nós ficarmos falando das possibilidades que essa obra trará para a região, não teremos espaço suficiente para tratar de todas. Existe uma região no Equador chamada de Guayaquil , que encontra-se praticamente na mesma latitude da Baixada Maranhense, inclusive eu costumo apresentar a região de Guayaquil como se fosse a baixada, para isso basta girar o mapa do mundo e é possível confundir essas duas regiões.

Pois bem. Guayaquil é a maior produtora de camarão de cativeiro do Equador e é a região com a maior renda per capta do País. Por que não transformar a baixada maranhense em uma nova Guayaquil? O potencial da Baixada Maranhense para a produção de camarão de cativeiro é enorme, podendo superar a produção do estado do Ceará, que hoje é um dos maiores produtores do Brasil.

Veja bem, já falamos aqui da pesca artesanal, pecuária, da agricultura irrigada, passamos pelo turismo e agora entramos na carcinicultura. Como você pode ver, as possibilidades são enormes. Se isso não for a redenção da baixada, não sei mais o que poderá ser.

Outro assunto que é muito caro para a Baixada é situação da barragem do Pericumã. Qual a real situação dessa barragem atualmente?

A barragem de Pericumã pede socorro e não é de hoje. Em artigo publicado no ano de 2014 intitulado ” SOS BARRAGEM DO RIO PERICUMÔ o vice-prefeito de Pinheiro, Cesar Soares, já denunciava o abandono em que a mesma havia sido relegada e as condições de falta de manutenção da barragem que poderiam trazer sérios problemas para a região.

As comportas estavam sendo manipuladas pelos próprios moradores com a ajuda da Prefeitura em uma verdadeira operação de guerra. De lá para cá nada mudou. Havendo o rompimento de uma comporta ou mesmo de parte da barragem, um inverno maior poderá trazer de volta as inundações às comunidades ribeirinhas e no outro extremo, as águas salgadas poderão entrar no rio inviabilizando a produção de pescado e prejudicando os moradores de Pinheiro, Palmeirândia, Peri-Mirim e Pedro do Rosário, municípios que de certa forma são abastecidos pelo pescado do Rio Pericumã. Essa é uma tragédia anunciada que será sentida pela população mais carente se nada for feito.

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